Era uma vez...
Desde tempos imemoriais, no norte de Portugal e no norte de Espanha, existia uma lenda temida por todos: o Acompanhamento. Dizia-se que este fenômeno ocorria nas noites escuras, especialmente nos sete dias que antecediam o passamento (morte) de alguém na aldeia.
O Acompanhamento era uma procissão de almas penadas, conhecidas como Estântegas, que vagueavam pelas aldeias em busca daqueles que estariam prestes a desfalecer.
Dizia-se que era possível identificar quem estaria destinado a morrer para breve ao avistar a pessoa na procissão. Nas aldeias havia sempre alguém que dizia que via a procissão com seus próprios olhos (pessoas de corpo aberto), sabendo assim quem estaria pra morrer, e outros que diziam ouvir a campana (campainha). Também, quem tivesse o Livro de São Cipriano poderia ver.
"Flano tal não está para durar. Ia no Acompanhamento certa noite!"
A procissão ocorria à meia-noite, ao som de 12 badaladas. Quando o Acompanhamento passava, deixava para trás um cheiro intenso a cera de vela queimada.
Existem relatos que ao passar do Acompanhamento as pessoas eram empurradas para as bermas das caminhos, desligavam-se carros misteriosamente, e quem ousasse olhar para trás levaria um forte "estaladão" sem saber de onde veio.
"Quando vieres para casa, não olhes para trás!"
Já nos cruzamentos e cruzeiros, era proibido parar, pois acreditava-se que ali descansava o Acompanhamento. Nas noites escuras, era aconselhável caminhar nas bermas das estradas, nunca no meio. As pessoas evitavam de entrar em casa antes da meia noite, e quem sentisse a presença do Acompanhamento ficava paralisado, incapaz de se mover, ou, em alguns relatos, era forçado a caminhar com as almas penadas durante toda a noite.
Além disso, havia a Berrega ou Pito da Morte, que cantava no lugar da aldeia onde alguém fosse partir. A superstição ia além, afirmando que se os sinos no toque a defunto tocassem já depois de parar, significava que outra morte estava pra acontecer.
Os cães uivavam noite fora nos lugares onde ocorriam falecimentos, e a atmosfera ficava impregnada de medo durante as noites em que o Acompanhamento podia ser avistado.
Mesmo com o passar do tempo, a crença nessas tradições persistia, e as pessoas mantinham rituais para se proteger do Acompanhamento. Cruzes, água benta, e outros símbolos eram usados como defesa contra as forças sobrenaturais que marcavam a passagem dessas procissões assombradas. Na noite de consoada (Natal), ainda hoje é tradição deixar comida na mesa para que as almas familiares se venham deliciar.
Sabia que...
No que toca a este tipo de lendas mais macabras características do Parque Nacional Peneda Gerês, existe lendas reais como a do Velho de Cabreiro, no entanto o Acompanhamento é daquelas que é mais mito.
A origem da lenda do Acompanhamento é motivada por vários fatores. Em tempos medievais, e até "à pouco tempo" não havia televisão, rádio, ou outro tipo de entretimento sonoro, sendo que nas aldeias, eram vários os barulhos que se ouviam durante a noite, dos quais os chocalhos das vacas (campanas). As pessoas faziam o chamado serão, em que iam para a casa dos vizinhos conversar ou até namorar. Então para evitar que os mais jovens retornassem tarde a casa, os pais diziam-lhes para entrarem antes da meia noite por causa da Procissão dos Mortos.