Era uma vez...
Há não muito tempo, nas montanhas do Parque Nacional Peneda Gerês, surgiu uma lenda que ecoava pelas medievais aldeias serranas. Um personagem controverso chamado Tomás Joaquim Codeço, mais conhecido por todos como Leão das Montanhas ou Tomás das Quingostas.
A lenda começa no dia 15 de agosto de 1808, quando Tomás, o quinto filho de José Codesso e Maria Teresa de Castro, veio ao mundo em terras de Melgaço. Cresceu e foi partidário de D. Miguel durante as Guerras Liberais, envolvendo-se em combates. No entanto, depois a sua vida tomou um rumo obscuro, tornando se um temível salteador fora-da-lei, descrito por alguns como uma espécie de Robin dos Bosques.
Tomás das Quingostas formou e liderou uma quadrilha temível de cerca de 40 indivíduos que aterrorizava as aldeias da raia tanto em Portugal quanto na Galiza. Diziam que ele roubava dos ricos e, em um gesto quase nobre, distribuía parte do saque entre os pobres. A sua fama cresceu rapidamente, tornando-se uma figura temida.
Tomás das Quingostas, munido de sua perícia no território, e apoiado pela população, escapava de inúmeras emboscadas das autoridades. Os seus refúgios remotos como Pena de Anamão em Castro Laboreiro, forneciam-lhe o isolamento necessário para planear os seus golpes e se esconder das autoridades.
Numa noite chuvosa e enevoada, a 21 de março de 1829, um acontecimento trágico sucedeu. João Vicente, um jovem calmo e generoso de Melgaço, foi vítima da quadrilha de Tomás das Quingostas, tendo sofrido um ataque violento que lhe custou a vida.
A lenda ganha contornos mais sombrios quando, durante a romaria da Peneda em 1838, Tomás das Quingostas e sua quadrilha interrompem a festa religiosa, causando o pânico. Assassinaram a tiro Joaquim Cerqueira, um hábil jogador de pau da Gavieira, e João Manuel Domingues, presidente da Vila de Soajo.
A vida de Tomás das Quingostas sofreu uma reviravolta em 30 de janeiro de 1839, quando, após diversas façanhas e fugas, foi capturado na taberna de seu amigo Policarpo José de Fontes. Perto da ponte d'Alote, Tomás das Quingostas foi fuzilado após uma tentativa de fuga.
A lenda persiste, contando que, na Galiza, a expressão "Os pobres non o ten e os ricos non o dan" é associada a Tomás, sugerindo que ele não roubava dos pobres. Em Melgaço, até inícios do século XX, as pessoas costumavam dizer "És pior que o Tomás" como um insulto. Assim, Tomás das Quingostas, uma figura complexa, permanece viva nas lendas, carregando consigo a dualidade de ser tanto um vilão quanto um herói, dependendo da perspetiva de quem conta a história.