As carpideiras, mulheres especializadas na arte do lamento e do choro fúnebre, têm uma presença marcante em diversas culturas e tradições ao redor do mundo, mas também no Parque Nacional Peneda Gerês, mais precisamente nas Aldeias de Soajo, Peneda, Lindoso, e Castro Laboreiro. Seja na Grécia Antiga, no Oriente Médio ou em comunidades rurais contemporâneas, as carpideiras desempenham um papel único em cerimônias fúnebres, combinando expressões de dor com uma performance social intrincada.
Origens e História
As origens das carpideiras remontam a antigas tradições fúnebres como o luto onde mulheres eram designadas para expressar a dor coletiva durante os rituais de passagem. Na Grécia Antiga, por exemplo, havia mulheres contratadas para chorar nos funerais, conhecidas como "prófugas" ou "pranteadoras". Essas mulheres, muitas vezes, eram selecionadas por sua habilidade em artes performativas e por sua capacidade de comunicar emoções intensas. No Oriente Médio, o papel das carpideiras também foi historicamente significativo. Elas eram responsáveis por conduzir as lamentações em árabe conhecidas como "nawh", expressando tristeza e homenageando o falecido. Essa prática se estendeu para outras regiões, desempenhando um papel vital em rituais culturais.
A Função das Carpideiras
O trabalho das carpideiras vai além de um simples lamento. A sua função é criar uma atmosfera de luto, expressando o pesar da comunidade e honrando o falecido. Através de cânticos, gestos dramáticos e, por vezes, até mesmo coreografias elaboradas, as carpideiras transformam o luto em uma experiência coletiva. As carpideiras também podem ser vistas como guardiãs da memória cultural. Elas transmitem tradições, histórias e valores de uma comunidade através de suas performances, muitas vezes preservando elementos importantes da herança cultural.
Desafios Contemporâneos
No entanto, o papel das carpideiras tem enfrentado desafios no contexto moderno. Mudanças nas práticas funerárias, a influência crescente da cultura ocidental e a perceção evolutiva da expressão do luto têm impactado a demanda por esse serviço tradicional. Além disso, em algumas culturas, a autenticidade das carpideiras pode ser questionada. Em certos casos, mulheres são contratadas para desempenhar esse papel sem um vínculo emocional real com o falecido, o que pode levar a críticas sobre a comercialização do luto.
Entre a Tradição e a Mudança
À imagem das lendas tais como o Acompanhamento e a Berrega, as carpideiras, ao longo da história, têm desempenhado um papel fundamental na preservação de aspetos culturais. Suas performances dramáticas não apenas proporcionam consolo às comunidades enlutadas, mas também contribuem para a riqueza e diversidade do patrimônio cultural. No entanto, a evolução das práticas funerárias e as mudanças nas perceções sociais desafiam a continuidade desse papel. Como muitas tradições culturais, o papel das carpideiras está sujeito a adaptações e negociações entre a preservação do passado e a compreensão do presente. O lamento ritual continua a ser uma expressão artística única, mas seu futuro pode depender da capacidade de se integrar de maneira significativa nas dinâmicas contemporâneas.